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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dispersão


Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:

Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.

A grande ave doirada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projecto.

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.

Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.

Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... mas recordo.

A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.

(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)

E sinto que a minha morte -
Minha dispersão total -
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.

Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.

Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas...

Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas p'ra se dar...
Ninguém mas quis apertar...
Tristes mãos longas e lindas...

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...

Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em uma bruma outonal.

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida
Eu sigo-a, mas permaneço...

.......................................
Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba...
.......................................
                           Mário de Sá Carneiro
                                    (1890-1916)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tristeza

Termo muitas vezes usado de forma pejorativa e rotulante, possui como caracterização a falta de alegria.
Pode ser oriunda de diversos lugares, mas sempre ligado a sentimentos negativos.
As vezes acompanhada de raiva ou falta de interesse podendo ser geral ou sobre um determinado assunto. O dicionario Aurelio diz: s.f. Qualidade ou estado de triste. Vinda do termo Triste que diz:
adj. Falto de alegria ou contentamento: sempre foi um homem triste.
Desgostoso, penalizado, compungido: ficou triste com a morte do amigo.
Que provoca ou infunde tristeza; entristecedor: triste notícia.
Que revela tristeza: ar triste.
Desprezível, vil: ele fez um triste papel.
Obscuro, sombrio, lúgubre: casa triste.

A tristeza é um sentimento intrínseco ao ser humano. Todas as pessoas estão sujeitas a tristeza. É a ausência de satisfação pessoal quando o indivíduo se depara com sua fragilidade. Enquanto a depressão é a raiva e a vingança digerida na pessoa. Na prática, é uma tentativa de devolver para os outros o que existe de pior em si.
A raiva existente na depressão é resultado da total falta de vitalidade e motivação. Existe também uma infantilização, onde o indivíduo induz o ambiente a ampará-lo e dedicar atenção exclusiva a ele. A depressão inibe a coragem de enfrentar os desafios; regride a busca do prazer e contamina o ambiente a sua volta.
Outro fator que fortemente desencadeia a tristeza é a recusa. A dificuldade em aceitar o "não" torna-se desmotivante e abala a auto-estima. Por outro lado, a rejeição e a incapacidade frente a alguns obstáculos leva a quadros mais sérios e profundos da tristeza.

É comum a tristeza ser descrita como algo amargo, ou como uma dor, ou como sentimento de incapacidade, ou ainda como algo escuro (trevas).
A tristeza pode vir de fora para dentro; quando é gerada por elementos que circundam o indivíduo; ou de dentro para fora; quando simplesmente surge por uma inadaptação do indivíduo ao meio.

E você está triste hoje? 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A força de uma frase

Olhando em um filme é comum ouvir a frase "Eu ti Amo". Mas, é falado tantas vezes de diversas formas que está caindo na banalidade.
Acho que dizer "Eu ti respeito" tem mais força que "Eu ti amo".
Fica mais honesto.
Praticamente o "Eu ti amo" substituiu o "Eu ti quero".

E assim outras palavras vão perdendo sua força.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

De um momento lembro-me.

 De um momento lembro-me.

E eu estava morto. Não sentia mais nada a não ser o frio. Um gosto amargo na boca lembrava-me ferro. Um odor vinha do escuro, algo que não sei explicar. Só sei dizer que era ruim.
Achei que morrer doía, mas senti algo parecido com um picão de agulha, você sabe que irá ser cravado, sentir a ponta adentrando a pele, mas aceita e depois adormece.
Quando a faca entrou na minha carne eu senti o gelo do metal e com isso meus músculos se contraíram e logo em seguida relaxei. Senti cada movimento da faca mesmo no momento em que ela foi tirada de mim.
Lembro-me de ter ouvido a frase: -“Isso é pra você não se meter a granfino seu James Bunda.” Logo em seguida eu apaguei.
Em um relance tentei ouvir o que acontecia a minha volta, mas mais parecia um sinal ruim de um radio transmissor antigo. Parecia estar dentro de uma bolha e às vezes ouvia gritos, mas ao mesmo tempo o vazio.  Era como se estivesse com os ouvidos semi fechados. Acho que apaguei logo em seguida.
Senti uma vibração que corria pelo meu corpo, como se meus nervos entrassem em colapso, meus músculos vibravam e meu corpo doía novamente. Não conseguia abrir meus olhos, mas ouvia uma voz familiar a dizer: -“Aguenta cara, não deixa a gente não. Força!”
Num impulso senti meu peito se encher de ar novamente e meu coração se acelerar bruscamente, parecia uma queda livre.
Acordei com o sol batendo em meu rosto vindo de uma veneziana da janela. Abri um olho e vi um relógio na parede frente à cama. Eram 09h36min da manha. Respirei e corri meus olhos pelo ambiente onde estava. Só vi um teto liso, portas de metal e cortinas, pensei estar morto e aquilo ser o necrotério, mas não era apenas o quarto 303 da ala sul do hospital Gloria.
Perguntei o que havia acontecido e uma voz veio de um canto escuro do quarto: -“Você não conseguiu morrer e veio para o hospital. Vamos cuidar de você”.
-Quem está ai? Viestes me buscar ou estas são memórias póstumas?
_Nem um nem outra, sou apenas um amigo que acompanha tua jornada, teu calvário. Estive presente mesmo quando querias estar sozinho e não ti deixarias nesta hora tão difícil. Tua mãe fora pra casa á alguns instantes atrás, teu pai foi levá-la. Teus irmãos estão na sala de espera, aguardando tua passagem.
- Então o senhor veio me buscar? Estou certo?
_Nem sim, nem não. Acho que eu não me apresentei me chamo Pockey.
-Que engraçado, adorava este nome quando criança.
_Eu sei. Escrevestes varias coisas sobre mim, algumas usando este nome. Não sabes tu, que era eu que ti dizia para escrever e assim me destes uma reputação de escritor internacional. Pockey Valentine, nome de presença.
_ Só posso ti dizer que o que aconteceu foi ruim e que não está na hora de partires. Mas depende de ti querer continuar.
-Como assim continuar. Se eu estou em um hospital é porque estou vivo. Já morri?
_Não morrestes nem estas vivo apenas paira sobre os dois lados.
-Eu não sinto dor, sinto-me bem!
_ Com o acontecido, você tem o direito a deixar seu corpo e voltar em outra encarnação. Você não teve todas as suas aprovações, mas não estava previsto sofrer um atentado para atormentá-lo.
-Então quais são minhas opções?
_Isso eu gosto em você, esta tentativa de tomar as rédeas da própria vida. Então vamos direto ao ponto. Sua primeira opção é desencarnar desta vida e se preparar para assumir outra ou continuar essa da onde esta.
 -Isso está muito fácil, quais são as conseqüências das escolhas? Não quero tomar decisão sem saber o que acontecerá.
_Você não notou que não pode saber de tudo que vai acontecer. Tem coisas que nem nós conseguimos prever. O mundo está em constante movimento não temos como predefinir o fim tendo tantas encruzilhadas para passar durante o caminho. Diga-me como é a vida de você hoje.
-É uma vida boa. Tenho trabalho, família, problemas, amor, momentos de paz e de agonia, saúde e doença. Acho que está equilibrado. Como será está nova vida?
_Não sei. Só sei que será diferente. Você está disposto a deixar os problemas pra trás e ter uma segunda chance?
-É tentador. Mas, não posso deixar quem me ama de lado. Eles precisam de mim.
_Mesmo você sendo gay, preconceituoso consigo, sendo errôneo e falho perante a sociedade? Não esqueça que a vida pode ser nova e poderás vir totalmente do outro lado da moeda.
- Não acredito que as coisas acontecem por acaso. Sei que se estou aqui é porque tenho algo a fazer e quero fazer. Quero aceitar a cruz que me deram para carregar e tenho Deus pra me guiar e guardar.
_ Deus. Nosso pai. Ajudai este irmão, que ele consiga manter-se no caminho do bem, que seja vencedor a teus olhos semeando a compaixão divina. Amém.  Que assim seja meu filho. Assumiras teu destino e daqui em diante farás teu caminho buscando nas raízes do teu sangue as marquises do teu novo EU.
-Amém.
-Seguiras comigo companheiro?
_Não, vim ti buscar para meu lado. Mas estarei perto quando for à hora.
-Obrigado.
_Não me agradeça. Eu apenas não estou entre os vivos, por enquanto.
-Espero vê-lo novamente. Adorei-te como companheiro na jornada d’Alma.
_ Apenas durma e não saia hoje.
No mesmo instante apaguei. Com a cabeça cheia, mas coração tranqüilo.
Acordei com uma luz sobre meu olho esquerdo, mas desta vez era o médico verificando minhas pupilas e me dizendo: “Boa Noite, bem vindo, teu regresso é aguardado”.
No momento sorri e notei que viver dói.
Ouvi risos ao meu redor. Era minha família que me aguardava. Todos estavam com os olhos injuriados.
-“Deixem pra chorar quando eu me for, creio que não será desta vez. Rsrsrs”
Todos riram de felicidade.
Eu nunca falei nada sobre o que me aconteceu, só sei dizer que fui esfaqueado e tive duas semanas em coma, pelo que foi me dito. Creio que um dia encontrarei novamente aquele que veio me buscar. Mas, ele sabia que eu não podia ir, ainda há coisas que só eu posso fazer, foram incumbências dadas a mim e a ninguém mais.
Farei o melhor possível. Mesmo não sabendo como deve ser o melhor e o pior. Vamos arriscar.
  
   
                                                                                                              Dionathan Amaral
                                                                                                              Outubro de 20 10.

   



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Oração de São Francisco de Assis


Uma das mais conhecidas traduções para a língua portuguesa desta oração é:
Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a .
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna!

Prière de Saint François d'Assise


Belle prière à faire pendant la Messe
Seigneur, faites de moi un instrument de votre paix.
Là où il y a de la haine, que je mette l’amour.
Là où il y a l’offense, que je mette le pardon.
Là où il y a la discorde, que je mette l’union.
Là où il y a l’erreur, que je mette la vérité.
Là où il y a le doute, que je mette la foi.
Là où il y a le désespoir, que je mette l’espérance.
Là où il y a les ténèbres, que je mette votre lumière.
Là où il y a la tristesse, que je mette la joie.
Ô Maître, que je ne cherche pas tant à être consolé qu’à consoler, à être compris qu’à comprendre, à être aimé qu’à aimer, car c’est en donnant qu’on reçoit, c’est en s’oubliant qu’on trouve, c’est en pardonnant qu’on est pardonné, c’est en mourant qu’on ressuscite à l’éternelle vie.
La Clochette, n° 12, dec. 1912, p. 285.