Era um bar da moda naquele tempo em Copacabana e eu tomava meu uísque
em companhia de uma amiga. O garçom que nos servia, meu velho conhecido,
a tantas horas se aproximou:
- Não leve a mal eu sair agora, que está na minha hora, mas meu colega ali
continuará atendendo o senhor.
de vaguidão habitual. Alguns minutos
mais tarde, vejo diante de mim alguém
que me cumprimentava cerimoniosamente com um movimento de cabeça:
- Boa noite, Dr. Sabino.
Era um careca, de óculos num terno preto
de corte meio antigo. Sua fisionomia me
era familiar, e embora não o identificasse assim à primeira vista, vi logo que devia
se tratar de um advogado ou mesmo desembargador de minhas relações, do
meu tempo de escrivão. Naturalmente disfarcei como pude o fato de não estar
me lembrando de seu nome, e me ergui estendendo-lhe a mão:
- Boa noite, como vai o senhor ? Há quanto tempo! Não quer sentar-se um pouco?
Ele vacilou um instante, mas impelido pelo calor de minha acolhida, acabou
aceitando: sentou-se meio constrangido na ponta da cadeira e ali ficou, erecto,
como se fosse erguer-se de um momento para o outro. Ao observá-lo assim de
perto, de repente deixei cair o queixo: sai dessa agora, Dr. Sabino! Minha amiga
ali ao lado, também boquiaberta, devia estar achando que eu ficara maluco.
Pois meu desembargador não era outro senão o próprio garçom –
meu velho conhecido! – que nos servira durante toda a noite e que havia
trocado de roupa para sair. (...)
Fernando Sabino. A falta que ela me faz.
4.ed. Rio de Janeiro. Record, 1980.p.143-4